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Um Tour que chega ao 1º dia de descanso ainda em águas de bacalhau


Das 9 primeiras etapas do Tour, à partida, havia mais expectativa, de haver diferenças, em 3 delas. O contrarrelógio colectivo, o Mur de Bretagne e a etapa de Roubaix. Diferenças houve, mas menores que o esperado, inclusivamente foram as jornadas aparentemente mais inofensivas que fizeram mais estragos, faz parte do ciclismo. Numa semana onde os sprinters foram protagonistas, assistiu-se às primeiras batalhas de uma guerra entre homens rápidos da nova geração.

Tudo começou com uma etapa louca, quedas e furos fizeram diferenças substanciais. Quintana perdeu 1:15, Froome, Yates e Porte cederam 51 segundos para os rivais. O contrarrelógio coletivo veio praticamente anular as perdas de Porte e Froome, com Daniel Martin a ser o mais prejudicado. Na etapa 4 foi Zakarin a ceder quase 1 minuto, depois de uma alegada falha de comunicação. Esperavam-se pequenas diferenças no Mur de Bretagne, mas estas aconteceram mais por furos do que por falta de capacidade física, com Dumoulin e Bardet a serem os maiores prejudicados. Finalmente, em Roubaix, só 2 candidatos saíram realmente a perder, um de forma dramática (Richie Porte) e outro de forma remediada (Rigoberto Uran).

Feitas as contas, os candidatos estão separados por 2:39, entre o 2º lugar de Thomas e o 24º de Martin (pelo meio estão ciclistas como Sagan, Kragh Andersen ou Gilbert que rapidamente devem sair). No meio disto tudo terão sido poucos aqueles que não tiveram qualquer contratempo, provavelmente Geraint Thomas, Alejandro Valverde e Vincenzo Nibali. Todos os outros sobreviveram e minimizaram perdas.

Curiosamente, uma das vencedoras foi a Movistar, sobreviveu a abanicos, ao contrarrelógio coletivo e a Roubaix e ainda tem os seus 3 líderes na discussão (é verdade que Landa caiu e estará dorido e que Quintana estão a mais de 2 minutos de Thomas, mas ainda são os 3 uma ameaça) quando o cenário projetado por muitos seria certamente pior. O único problema para a formação espanhola foi a perda de Rojas. Líderes como Majka, Yates ou Fuglsang tiveram os seus trambolhões, mas estão também numa excelente posição na geral.

A Team Sky está numa posição curiosa, Thomas é o primeiro dos favoritos, com 59 segundos sobre Froome, o que é uma espécie de dilema positivo e pode dar azo a algumas polémicas internas. Ainda assim, seria de esperar que tivessem colocado mais tempo face aos rivais tendo em conta a poderosa equipa de volta dos seus líderes. Um senão muito grande será o problema físico de Egan Bernal, consta que partiu 2 dedos da mão ontem.

Tendo em conta o ciclista completo que Vincenzo Nibali é, não nos admirávamos que o italiano estivesse até algo insatisfeito, Nibali costuma ser excelente nas etapas que tivemos até aqui e tem estado somente em modo sobrevivência. O mesmo se aplica a Tom Dumoulin, que sabe que não é um puro trepador. Sair desta semana com 1:20 de perda para Thomas e 21 segundos para Froome não é propriamente positivo. Martin, Uran e Zakarin estão de pé atrás, mas ainda estão vivos, e bem podem agradecer às equipas (principalmente os 2 primeiros), que os salvaram de situações potencialmente mais danosas.

Na guerra dos sprinters tivemos basicamente uma distribuição igualitária entre Sagan, Gaviria e Groenewegen. Gaviria começou melhor (e está acompanhado pelo melhor comboio, indubitavelmente), Sagan aproveitou as oportunidades, como é apanágio dele, e Groenewegen encontrou as pernas e confiança passado alguns dias, provando que é muito difícil de bater em sprints planos se estiver muito bem colocado. No entanto, a camisola verde está quase entregue a Sagan, com uma vantagem de 81 pontos sobre Gaviria.

A classificação da montanha está neste momento com Toms Skujins como líder, mas isso rapidamente deve mudar, já amanhã, com a chegada da alta montanha. Já na juventude, Soren Kragh Andersen tem a camisola e uma margem enorme, mas deve perder a liderança da classificação mais tarde ou mais cedo. A discussão será entre Guillaume Martin e Pierre Latour, agora que Bernal está com incapacidades físicas e que Gaudu e Soler estão a mais de 15 minutos de Latour.

Realçando alguns pontos negativos, Richie Porte volta a deixar o Tour à 9ª etapa, tal como em 2017, naquela que se sentia ser a derradeira chance do australiano. A prestação individual esteve lá, mas claramente a confiança sofreu um duro golpe, Porte tem dificuldades de colocação e de posicionamento e parte disso estará no psicológico. Muitos sprinters tiveram este dia para reflectir, se Greipel, Demare e Kristoff ainda têm estado a rondar o top 5 (esperávamos bem mais do francês), o mesmo não se pode dizer de Kittel e Cavendish. Cavendish já veio admitir que não tem pernas para os 500 metros finais, quando as principais equipas aceleram verdadeiramente, quanto a Kittel tem o comportamento oposto, completamente fechado na sua própria bolha, quando vem a público é para criticar a sua equipa, quando é ele que muitas vezes nem o comboio da própria equipa consegue seguir. Tem faltado claramente humildade ao alemão, que não se pode esquecer que foi a grande aposta da equipa para 2018 e resultados nem vê-los. Mandar a bicicleta contra o autocarro e gritar dentro do mesmo para a imprensa ouvir não vai resolver os seus problemas. Mesmo que tenha pernas, o sprint não é só os últimos 200 metros, a arte de se colocar para o sprint é tão ou mais importante que o sprint em si.

Mas uma grande mancha deste Tour foram as etapas longas e monótonas que tivemos, sem grandes motivos de interesse. Nem a pequena inovação do sprint bonificado veio resolver isso. Claro que estas jornadas também são necessárias, e claro que os sprinters também têm de ter espaço para brilhar, mas algumas contagens de 3ª ou 4ª categoria podiam perfeitamente ajudar a animar as coisas durante a etapa, de modo a que as equipas Profissionais Continentais procurem o seu momento de glória.

A montanha está aí à porta, e este Tour promete, é raro vermos que após 9 etapas, 90% a 95% dos favoritos à partida ainda estão com aspirações legítimas de alcançar os seus objectivos!


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