Porque vamos ter mais equipas portuguesas devido a mudanças nos regulamentos?
A Vito-Feirense-Blackjack iniciou aquilo que deve ser um conjunto de novidades muito curiosas no ciclismo português, novidades essas impulsionadas pelo novo regulamento das equipas de estrada da FPC (Federação Portuguesa de Ciclismo). Primeiro é preciso contextualizar a situação, o regulamento da Federação Portuguesa de Ciclismo tem especificações próprias e diferentes da UCI (União Ciclista Internacional). Como um funil, em Portugal as regras são mais apertadas e para uma equipa conseguir o estatuto de equipa Continental tem de ter a aprovação da Federação Portuguesa de Ciclismo antes da UCI.
Em 2017 uma equipa Continental portuguesa tinha de ter entre 8 a 16 corredores, pelo menos 6 deles com contrato profissional.
Mais importante, 60% dos corredores da equipa tinham que ter menos de 28 anos e no máximo podia haver 10 equipas continentais em Portugal.
É a própria FPC que submete à UCI os dossiers das equipas que cumpram os requisitos. Em relação a salários, o mínimo era 12 000 brutos anuais para ciclistas profissionais e 7 500 euros brutos anuais para ciclistas neoprofissionais.
Se analisarmos a constituição de outros equipas continentais noutros países vemos por exemplo que formações como a Axeon só tem ciclistas sub-25 e as equipas iranianas têm no geral 50% dos ciclistas acima dos 28 anos. Estas regras referidas são nacionais.
A questão é que este ano o regulamento das equipas continentais em Portugal alterou-se e não foi pouco. Passa a existir uma divisão entre equipas continentais com estatuto profissional e equipas continentais com estatuto não-profissional.
Aquelas com estatuto profissional são as que já conhecemos e têm de ter 8 ciclistas.
A novidade são as equipas não profissionais, que basicamente são equipas sub-25. São equipas com mínimo de 8 ciclistas sub-25 e no máximo 2 ciclistas com mais de 25 anos (que têm de ter contrato profissional).
Esses ciclistas sub-25 profissionais terão uma remuneração mínima de 7 800 euros brutos/ano e os restantes ganharão no mínimo 12 000 euros/ano. O problema é que os ciclistas sub-25 que não assinem contrato profissional não têm remuneração mínima.
Quais são as consequências? Haverá mais equipas continentais em Portugal, nomeadamente equipas que são actualmente sub-23 e que poderão optar pelo novo modelo de sub-25 para passarem ao escalão continental. A passagem para o escalão continental torna-se bem mais barata, não só as taxas de filiação são menores, mas os salários são também mais baixos, não há tantos custos e o investimento é menor. Desta forma também é possível participar nas principais provas portuguesas como a Volta a Portugal, Volta ao Algarve e Grande Prémio Joaquim Agostinho, só para dar alguns exemplos, o que permite uma visibilidade muito maior da marca e possivelmente maior retorno.
Pensamos que esta tendência é no geral negativa, claro que é sempre bom ver mais equipas continentais portuguesas na estrada, mas nunca é positivo quando se cria condições para a possível diminuição do salário médio do ciclista português e se incentiva, de certa forma, à precariedade dentro do desporto. Outro lado que fica a perder é o escalão sub-23, que pode perder competitividade em muitas provas e vai perder muitas equipas do escalão. A menos que haja uma estreita cooperação com a Federação Espanhola de Ciclismo pode ser, a médio-longo prazo a decadência do escalão sub-23 em Portugal. Iremos ter apenas 3 ou 4 equipas sub-23 e nenhum organizador vai querer organizar uma corrida com este número de equipas. Os ciclistas sub-23 terão agora muito mais responsabilidades e exigência de resultados, o que pode não ser exatamente o mais indicado para a evolução como ciclista.
Continua o limite de 10 equipas continentais, sendo que se surgirem mais equipas haverá lugar a uma seleção por parte de uma comissão independente, algo que não será necessária esta temporada.