Obrigado e até já Rui Sousa! O ciclista do povo termina a carreira aos 41 anos
- Camisola Amarela
- 11 de ago. de 2017
- 4 min de leitura

A partir de dia 15 de Agosto, último dia da Volta a Portugal de 2017, um dos corredores mais emblemáticos do ciclismo português, Rui Sousa, vai deixar a carreira de ciclista profissional. Viseu vai acolher e receber as últimas pedaladas de um super-veterano, um corredor emblemático no pelotão nacional, que vai deixar muitas saudadas, e que se despede aos 41 anos após uma carreira recheada de sucesso e alegrias, mas à qual faltou a cereja no topo do bolo.
Essa cereja é a classificação geral da Volta a Portugal, Rui Sousa esteve muitas vezes próximo de a conquistar, mas nunca a conseguiu. No entanto, não é só conhecido como ciclista de alto nível. O corredor da Rádio Popular-Boavista é presidente da União de Freguesias de Barroselas e Carvoeiro e amante confesso de aves exóticas, tendo mesmo um negócio relacionado com esta área.
Ao todo foram 19 Voltas a Portugal, 5 etapas conquistadas e 5 pódios na Grandíssima. Os pódios foram conquistados já numa fase adiantada da carreira, com excepção de 2002 (onde foi 3º) sendo 3º em 2011, 2012 e 2013 e 2º em 2014. As etapas espalharam-se entre 2008 e 2017, ganhando na Torre em 2008 e 2014, na Senhora da Graça em 2012, em Viana do Castelo em 2013 e em Fafe ainda ontem. Um triunfo emocional e com razão para isso.
Uma carreira de 20 épocas desportivas, sempre ao mais alto nível. Começou em 1998 na Porta da Ravessa, passou para a Milaneza-MSS em 2002, onde teve a oportunidade de participar na Vuelta, finalizando-a em 16º. Em 2005 mudou-se para a Liberty Seguros, onde esteve até 2009, altura em que ingressou na Barbot-Siper, agora Efapel. Por fim, nas últimas 4 temporadas esteve com o Professor José Santos, na Rádio Popular-Boavista.
É alguém que vai deixar saudades no mundo do ciclismo, pela sua irreverência, pelos seus ataques destemidos, pela sua boa disposição e sorriso constante, pela abertura de falar de todos os assuntos, mesmo nas situações mais complicadas, pela boa condição física que sempre demonstrava e pelo espectáculo que oferecia, por tudo isto e muito mais, obrigado e até já Rui! Até já, porque esperamos que não te desligues do ciclismo, como ciclista do povo que és.
Declarações da conferência de impressa dada pelo Rui (retiradas da Agência Lusa):
“Há um ‘timing’ para tudo na vida. São 20 anos de profissionalismo, dedicação e empenho. São muitos quilómetros de estrada. Independentemente de, hoje em dia, a minha capacidade física já não ser a mesma, eu entendo que tenho de dar a vez aos mais jovens. Naturalmente, vou ter muita pena, todos os dias me tenho emocionado com aquilo que é o pensamento de despedida, sobretudo, da Volta a Portugal”, explicou à agência Lusa, no dia em que anunciou que vai encostar a bicicleta.
O fim tinha de ser aqui, na Volta a Portugal, a prova que leva, desde sempre, no coração. “Sair e deixar de correr tinha de ser nesta, que é a minha corrida e que é aquela corrida em que o público me apoia de uma forma que nem consigo muito bem descrever. Isso tem sido patente não só na minha terra, mas em qualquer parte do país. Tem muito a ver com esses 20 anos de profissionalismo, de entrega, de luta, de acreditar sempre. As pessoas acabaram por se habituar e acarinham-me por isso. Mas chegou a altura de dizer adeus”, assumiu o ciclista da RP-Boavista, que começou a pedalar aos 12 anos.
“Vou sentir falta de estar na luta, porque sinto que toda a minha vida fui um guerreiro. Luto desde muito novo, sou oriundo de uma família muito humilde, que sempre me deu todo o apoio possível. E depois, dentro daquilo que foi o apoio, tive de lutar, lutar e lutar. Nunca tive nada caído do céu. Sinto-me feliz com aquilo que foi a minha carreira. Naturalmente, gostava de ter vencido uma Volta a Portugal, seria a ‘cereja no topo do bolo’ da carreira de um atleta que tem cinco pódios. Acho que é legítimo pensar que poderia ter vencido alguma. Não foi possível, os outros foram melhores nos momentos cruciais”, reconheceu.
“Quero agradecer a todas as equipas por onde passei, a todos os colegas que tive. Queria pedir desculpa a todas aquelas pessoas com quem não fui correto na minha carreira, independentemente de ter razão ou não. Nesta modalidade, quase não tenho inimigos – posso ter uma pessoa ou outra. Até ao dia de hoje, continuo a ser um atleta respeitado pelos adversários. Noto que as pessoas gostam de mim e penso que isso tem a ver com a minha postura em corrida. Sempre soube, nos momentos bons ou menos bons [emociona-se], dizer que não venci, porque não fui o mais forte”, lembrou.
“O menos bom foi o ano de 2003. Em 2002, fiz terceiro e nesse ano era o líder da equipa para a Volta a Portugal e acabei por ter uma lesão no joelho, que deitou tudo a perder. Esse foi o ano negro da minha carreira. Chorei muito, porque pensei que, aos 20 e poucos anos, a minha carreira acabava ali. Foi um sofrimento tremendo, mas consegui, como em tudo na vida, dar a volta por cima. Estou feliz com o que fiz, como corredor dei sempre o meu melhor. Não tenho nada a apontar. Se começasse agora do zero, faria tudo igual”, assegurou.
De lágrimas nos olhos e voz entrecortada, o homem que nos últimos anos têm sido o símbolo mais popular da Volta a Portugal, revelou a sua maior alegria: “Pertenci à história desta modalidade e é isso que me deixa satisfeito”.























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