Os estragos da caótica etapa 9
Um boletim clínico cheio, classificações alteradas e vários ciclistas a caminho de casa ou do hospital, a 9ª etapa do Tour não desiludiu pelo espectáculo, que poderia ter sido um pouco menos doloroso. A etapa rainha já foi e fez jus ao nome, esperemos que não seja a única etapa rainha deste Tour. É verdade que os líderes de 3 classificações se mantiveram, mas isso não quer dizer que as dinâmicas dessas classificações não tenham mudado.
A queda de Richie Porte foi um dos assuntos do momento, tanto que alguns noticiários em Portugal preferiram a carnificina e a destacaram em vez de uma vitória simplesmente fantástica de Rigoberto Uran. O australiano tem algumas debilidades a descer e isso ficou de novo visível numa descida que tinha sido várias vezes reconhecidas, talvez não muitas nestas condições de pavimento escorregadio. Porte foi levado para o hospital com dupla fractura, da clavícula e da pélvis, vai ser um duro processo de recuperação para o ciclista da BMC que já tinha admitido que esta poderia ser a derradeira chance de conquistar o Tour. Froome fica assim sem o rival que mais o assustava talvez, pela sua capacidade no esforço contra o cronómetro. Ainda para mais quando tinha visto pouco antes Geraint Thomas abandonar devido a fractura de clavícula. Thomas já tinha desistido do Giro devido a queda e já tinha estado pelo menos em 3 quedas neste Tour, ele e Primoz Roglic têm de ir pregar por sorte.
Alberto Contador também ficou praticamente afastado da luta pela vitória, caiu por 2 vezes, uma delas a 15% de inclinação e quase parado, quando encaixou a bicicleta com a de Quintana. Perdeu tempo devido às quedas ou à pobre condição física. Pareceu-nos um misto das 2. Contador já fez grandes recuperações, mas a remontada de Fuente Dé aconteceu em circunstâncias bem mais favoráveis, agora parece pior, tem mais adversários directos, está mais longe e a Team Sky não é a Katusha.
Daniel Martin também se viu envolvido na queda de Richie Porte, o irlandês perdeu 1:15 graças a isso, mas salvou o Tour. Resta avaliar o estado físico no dia de descanso. Rafal Majka sofreu igualmente uma queda aparatosa e tem o Tour estragado. O polaco cedeu mais de 36 minutos e chegou num estado lastimável, bem tentou recuperar no dia de descanso, só que a Bora-Hansgrohe já anunciou que é o abandono para Majka. Para piorar tudo, Emanuel Buchmann ficou à espera dele, o polaco após avaliar como estava mandou-o seguir, mas a energia gasta para recuperar foi demasiada e o alemão perdeu muito tempo.
No lado dos sprinters a luta pela camisola verde perdeu Arnaud Demare, que chegou fora do controlo, arrastando com ele os companheiros Mickael Delage, Ignatas Konovalovas e Jacopo Guarnieri, que estiveram com ele o dia todo, a tentar rebocá-lo. O campeão francês já ontem se tinha visto grego para chegar dentro do tempo estipulado pelo regulamento, e hoje sofreu desde o quilómetro 0, não sendo o esforço suficiente. Questionado se estava doente, Demare somente respondeu que era uma nulidade, que estava vazio e com problemas em recuperar do esforço consecutivo. Marcel Kittel fica assim somente a lutar com Michael Matthews pela verde, o australiano que promete dar luta, mais nas etapas de montanha, pois Kittel pode perfeitamente somar mais um par de vitórias com a sua ponta final temível.
No entanto, Demare e os companheiros não foram os únicos a chegar fora do tempo limite, sofreram essa sina também Jos van Emden, Mark Renshaw e Juraj Sagan, que já pode fazer companhia ao irmão nestas férias forçadas. A grande surpresa na chegada fora de controlo foi Matteo Trentin, que até se defende bem na montanha e é uma peça importante na Quick-Step Floors, mas o italiano viu-se envolvido na mesma queda que vitimou Thomas e Majka.
Isto tudo aconteceu depois de 2 abandonos logo no início da etapa. Manuele Mori teve de ser levado de urgência para o hospital, sendo a sua dor bem audível, entre o diagnóstico estava um perigoso pneumotórax. Robert Gesink, protagonista ontem e que tinha prometido lutar por glória ainda neste Tour, viu-se forçado a abortar essa promessa devido a uma vértebra fracturada. Outros ciclistas afectados por incidentes foram Alexey Lutsenko e Eduardo Sepulveda, Angelo Tulik e Jesus Herrada, todos em dúvida para a 10ª etapa, o espanhol chegou mesmo a ser dado como abandono, mas tal não se viria a verificar.
Na luta pela camisola branca, adiantou-se Simon Yates, e pode novamente esta classificação ficar no seio da família. Na classificação da montanha Warren Barguil é agora o grande candidato, após o dissabor logo após o término da etapa. Terá como grandes rivais Primoz Roglic, Alexis Vuillermoz, Thibaut Pinot e algum ciclista da geral. Em termos de classificação por equipas, notou-se que a Ag2r La Mondiale também vem com esse objectivo, mas o domínio da Team Sky é grande, apesar da Astana ser a única formação realisticamente com 2 ciclistas a lutar pela vitória.