O (pouco) que se pode concluir de um excelente Dauphine
O Criterium du Dauphine presenteou-nos os com uma grande semana de competição nas estradas francesas, tendo um elenco de luxo que correu de forma agressiva. O resultado foi uma vitória surpreendente de Jakob Fuglsang e muitas conclusões retiradas por amantes da modalidade, algumas delas precipitadas, julgamos.
1 – A BMC tem de meter mais carne no assador – Ainda não é conhecido o alinhamento da BMC no Tour, mas para corresponder às exigências de ter um líder na forma da vida. Roche continua a desiludir, Hermans, Bookwalter e de Marchi não chegam. Sendo assim, quem são as alternativas? Só estamos a ver Damiano Caruso e Samuel Sanchez com nível, e eventualmente, vontade para completar o lote de trepadores. E Porte merece, está a fazer a melhor temporada de sempre e foi 5º no Tour no ano passado (2º sem aquela 2ª etapa).
2 – Astana está de volta e pode ser a equipa com mais opções – Jakob Fuglsang teve a semana áurea da carreira no Dauphine, não nos lembramos de ver o dinamarquês tão bem. Fabio Aru voltou de lesão no joelho em grande e sempre com espírito ofensivo. Miguel Angel Lopez está a ganhar ritmo da Suíça e pode chegar ao Tour muito melhor do que está. Isto tudo junto pode levar a Astana a ser uma das grandes animadoras da prova, principalmente tendo um trio que não tem medo de atacar.
3 – Dauphine ofereceu espectáculo, a mesma receita no Tour? – Gostaríamos que sim, não estamos tão esperançados quanto isso. O percurso é pior e os ciclistas no Tour tendem mais a defender as suas posições. No entanto, se chegarmos à última semana com poucas diferenças e sem uma equipa que mostre posição de domínio, tudo é possível. Há cada vez mais ciclistas consagrados sem nada a perder.
4 – Meintjes discretamente a evoluir – Com os tubarões presentes o sul-africano fez 8º numa prova onde esteve muito bem na alta montanha. 10º na Vuelta em 2015, 8º no Tour em 2016, está numa preparação em crescendo após começar o ano mais devagar e pode muito bem fazer top 5. Não é homem de grandes acelerações, é prático e resultadista.
5 – Demare continua a ganhar a guerra dos sprinters franceses – Quase que forçou a saída de Bouhanni da FDJ e agora ganha regularmente ao compatriota. Coquard parece um pouco perdido e Bouhanni estagnado. Demare é o único com um monumento, é o único que ganhou este ano no Paris-Nice ou Criterium du Dauphine e é consegue ser o único líder da FDJ no Tour apesar do poderio da equipa francesa.
6 – Contador em que estado da preparação? – O Pistolero não escondeu que não estava ao seu melhor, mas daí a quebrar nas etapas que mais lhe favoreciam ninguém esperava. A aposta da Trek-Segafredo é grande, não é um qualquer que leva André Cardoso, Pantano e Mollema como grEgários, se o espanhol não corresponder a equipa pode repensar um pouco a aposta. Os sinais de Contador não são os melhores.
7 – Movistar irá usar Valverde como isco – Não se enganem, Quintana e Valverde irão entrar como líderes, mas na cabeça de Eusébio Unzue o colombiano será a única real esperança. É que Valverde, apesar do ciclista fabuloso e tremendamente completo que é, mostrou mais uma vez que as subidas longas e inclinadas não são para ele, a única fragilidade do reportório do “Bala”. Valverde já testou os ataques de longe no Dauphine, esperem vê-los no Tour.
8 – Barguil continua a perder espaço – Dumoulin ganha o Giro, Matthews é outro líder em afirmação e Sam Oomen faz 14º no Dauphine, enquanto Barguil faz 30º. Pior cenário para o francês é impossível. Só tem 1 top 10 em Grandes Voltas, na Vuelta em 2014, parece que este será o 3º ano consecutivo de “seca”.
9 – Froome a grande indefinição – O britânico parece uns furos abaixo do que tem apresentado, e não é só ele, a Team Sky também. Só Froome a sua equipa técnica sabe se ele está a 70%, 80% , 90% ou mais, mas um facto é que esta foi a pior primeira metade de temporada de Froome desde 2012 e a condição física pode melhorar, mas a confiança parece estar afectada.