Antevisão da Liege-Bastogne-Liege
A semana das clássicas das Ardenas está a chegar ao fim e a Liege-Bastogne-Liege é o último capítulo deste livro. A “La Doyenne” é a única prova das 3 que é considerada um monumento e justifica isso mesmo pela história, pela sua extensão e pelo percurso selectivo que tem. É uma das corridas mais formidáveis do ano e uma das mais prestigiadas também, uma vitória aqui pode mudar a carreira de um ciclista.
Percurso
258 quilómetros vão ligar a cidade de Liege a Ans. Como é normal neste tipo de corridas, a parte inicial será menos complicado e servirá para definir a fuga do dia e para esta ganhar alguma vantagem. De Liege para Bastogne serão 97,5 kms apenas com uma dificuldade, o Cote de la Roche-en-Ardenne (2,8 kms a 6,2%). A viagem de volta para Liege é que será bem mais complicada, começando logo pelo Cote de Saint-Roch (1 kms a 11,1%), logo seguido pelo Cote de Wanne (2,7 kms a 7,4%).
A partir daqui é que começa a real selecção do grupo principal, já deveremos ver os favoritos e as suas equipas na frente, além dos habituais ataques de figuras secundárias. A 90 kms da meta surge o Cote de Pont (1 km a 10,5%), com o Cote de Bellevaux (1,1 kms a 6,8%) e o Cote de la Ferme Libert (1,2 kms a 12,1%) a estarem logo de seguida. Segue-se uma fase mais calma, até aos 61 kms finais, onde surge o Col du Rosier (4,4 kms a 5,9%), a ascensão mais longa da competição. À entrada dos 50 kms finais aparece o Col du Macquisard (2,5 kms a 5%), sendo que os jogos tácticos e todas as decisões deverão começar a fazer-se a partir daqui.
O Cote de la Redoute (2 kms a 8,9%) é talvez a colina mais conhecida da prova, estando a 35,5 kms do final e poderemos ver já aqui alguns favoritos a testarem as águas e a agitarem a corrida. Mas a 19,5 kms da meta surge o Cote du Roche-aux-Faucons (1,5 kms a 9,3%), uma subida terrível após tantos quilómetros de prova e no final da qual já deveremos ver um grupo muito restrito na frente e ver os primeiros ataques mais sérios.
Só que ainda há mais, pois a 5,5 kms do final está localizado o Cote de Saint-Nicolas (1,2 kms a 8,6%), uma subida que tem servido para mais ataques e que seleciona ainda mais o grupo. O final em Ans è ligeiramente a subir, com o último quilometro a ter uma inclinação média de 4,6%. Parece pouco, mas depois desta dureza toda e de 250 kms de prova faz mossa, nunca esquecendo que a cerca de 300 metros da meta existe uma perigosa viragem a esquerda, onde Daniel Martin caiu em 2014.
Favoritos
Tacticamente esta deverá ser uma prova interessante, como costuma ser todos os anos. As clássicas este ano têm tido ataques de longe a resultar e algumas figuras poderão tentar isso amanhã. A Quick-Step e a Team Sky quererão destruir o pelotão e obrigar a Movistar a trabalhar, visto que a equipa espanhola tem o maior favorito, que ainda por cima tem uma boa ponta final. Equipas com várias opções como a Orica-Scott e a Ag2r La Mondiale podem vir a ter um papel preponderante.
O maior candidato à vitória nesta corrida tem de ser Alejandro Valverde. O murciano vem de mais um triunfo na Fleche Wallonne e está a realizar uma temporada tremenda, já conta com 10 vitórias ao todo. Valverde já ganhou aqui por 3 ocasiões, 2006, 2008 e 2015, mas a vertente táctica que esta prova tem já o prejudicou várias vezes. A Movistar deve assumir o controlo do pelotão e Marc Soler, Daniel Moreno e Carlos Betancur devem marcar todas as mexidas nos últimos 50 quilómetros.
Quem está a fazer uma campanha nas Ardenas muito positiva, voltando aos melhores momentos é Michal Kwaitkowski, já vencedor da Strade Bianche e Milano-Sanremo, o polaco costuma aparecer sempre nos grandes momentos. Foi 7º na Fleche Wallonne numa subida que não o beneficia. Apesar de não ter um grande histórico aqui (só por 1 vez esteve no pódio), acreditamos que está melhor do que nunca.
Outsiders
Este é um dos grandes objectivos do ano para Rui Costa e o português já manifestou a sua paixão por esta prova. Após um enorme início de época esteve num estágio de preparação para o Giro e mostrou-se bem na Amstel Gold Race. O facto da prova ser longa e dura ajuda-o, ele que já foi 9º em 2013, 4º em 2015 e 3º em 2016. Conta com Louis Meintjes, Diego Ulissi e Simone Petilli como principais auxiliares.
A Liege-Bastogne-Liege também assenta que nem uma luva a Daniel Martin e o irlandês está repleto de resultados positivos este ano. Foi aqui 5º em 2012 e 1º em 2013, sendo que também em 2014 ia encaminhado para o triunfo até que caiu. É o líder isolado da equipa e tem bons gregários, Gianluca Brambilla, David de la Cruz, Laurens de Plus, Enric Mas e Peter Vakoc serão os principais.
Esta poderá ser a cereja no topo do bolo para alguém como Greg van Avermaet, uns poderão dizer que esta prova é dura demais para ele, mas com a evolução que tem tido, com a polivalência que tem ganho e com a demonstração de força na prova de estrada dos Jogos Olímpicos, tem de ser um dos candidatos. Atenção que já foi 7º aqui em 2011 e nos últimos 3 anos não correu. Não fez a Fleche Wallonne, poderá estar mais descansado e tem homens como Dylan Teuns, Samuel Sanchez ou Damiano Caruso ao seu lado.
Possíveis surpresas
Michael Albasini deverá ser a melhor opção da Orica-Scott, 2º no ano passado o suíço foi 3º na Amstel Gold Race e 5º na Fleche Wallonne, tem uma boa ponta final e quer culminar esta semana com chave de ouro. Ion Izagirre está em grande forma, é muito regular e nem é dos corredores mais marcados, foi 7º na Amstel e 12º na Fleche. Sergio Henao foi 6º na Amstel, 4º na Fleche, já foi 7º em 2015 e poderá ser o grande beneficiado da Team Sky ter várias opções para ganhar. Romain Bardet anda sempre muito bem na Liege-Bastogne-Liege, em 4 participações nunca fez pior que 13º. Warren Barguil foi 6º no ano passado e surpreendeu ao fazer 6º na Quarta-Feira, parece estar em boa condição física. Rigoberto Uran é capaz do melhor e do pior, o colombiano parece estar bem e tem uma equipa forte. Cuidado ainda com alguns ciclistas como Tim Wellens, Luis Leon Sanchez, Petr Vakoc, Diego Ulissi, Domenico Pozzovivo, Tom Dumoulin e Adam Yates.
Super-jokers
Os nossos super-jokers são Diego Rosa e Jakob Fuglsang.