Antevisão do Paris-Roubaix
Chegou o Inferno do Norte, um dia que muitos ciclistas apontaram no calendário e que muitos fãs de ciclismo ansiavam. Após semanas e semanas a correr em estradas belgas, o ponto alto e o culminar da fase das Clássicas do Norte ocorre no Norte de França, com a ligação entre Compiegne e o velódromo de Roubaix. É um evento único, onde para além de ter que se estar muito forte, é preciso ter alguma sorte para não ter nenhum infortúnio.
Percurso
A edição deste ano do Paris-Roubaix, comparando com a temporada passada, conta com menos 500 metros de competição, num total de 257 kms, mas conta com mais setores de empedrado (55 kms e 29 sectores), ao contrário dos 27 sectores da temporada transacta.
Como é tradicional, o Paris-Roubaix deste ano começa com um longo troço de estrada asfaltada, serão 90 7kms para aquecer as pernas, que poderão ser importantes para as equipas que coloquem homens na fuga do dia. Praticamente ao km 100 surge o 1º troço de pavé, e é aqui que o ritmo vai começar a endurecer e a luta por posicionamento no pelotão vai ficar mais activa. Falamos do Troisvilles-Inchy. Os primeiros 9 troços de pavé apenas irão servir para uma eliminação progressiva dos ciclistas no pelotão, até porque a dureza dos mesmos não é incrível, apenas havendo o sector com 4 estrelas (Quievy, aos 107,5 kms), sendo a maioria de 3 estrelas.
A batalha entre os favoritos deverá começar no 10º sector, o Haveluy, que tem 4 estrelas na sua categorização, isto porque a Floresta de Arenberg surge apenas 8 kms depois do Haveluy, e é o troço mais icónico desta corrida, sendo que no final do mesmo o pelotão já vai estar bem fraccionado e uma queda ou um furo nesta altura será o fim da corrida para muitos. Setor de 5 estrelas com 2400 metros.
Após a primeira grande selecção, o ritmo costuma abrandar, permitindo reagrupamentos. Geralmente, nos próximos 7 sectores de empedrado não se decide muito, apenas um acumular de desgaste e uma batalha táctica, que leva ao decisivo sector de Mons-en-Pevele, outro com 5 estrelas de dificuldade e que está localizado a 48,5 kms da meta, sendo um dos mais longos da prova com 3 kms de extensão. Nesta altura, já um grupo muito restrito deve estar na frente.
Mas tudo indica que a corrida se decida nos últimos 30 kms com o Cysoing-Bourghelles e Bourghelles-Wannehain (4 estrelas e 1.3 kms e 3 estrelas e 1.1 kms, respectivamente, que estão a 26,5 kms da meta) e o Champhin-en-Pevele (4 estrelas e 1.8 kms a 19,5 kms do final), mas o desfecho da prova pode muito bem definir-se no Carrefour de l’Arbre, o 3º sector com 5 estrelas, que tem 2100 metros e que está a 16,5 kms da meta.
Após o Carrefour de l’Arbre apenas restam 3 sectores, mas que são menos complicados, o Gruson, que tem 2 estrelas e está a 14,5 kms do final, o Hem, que tem 2 estrelas e está a 8 kms da meta e por fim o sector de Roubaix, mesmo à entrada do velódromo, que é mais simbólico do que outra coisa, com apenas 1 estrela. A competição termina no velódromo de Roubaix, num espectáculo único, com os ciclistas a darem 1 volta e meia ao velódromo, sendo de consagração para muitos e de luta por lugares para outros.
Favoritos
O Inferno do Norte não se irá decidir somente na força e forma física, esta corrida tem sempre muita táctica envolvida e só aqueles mais perspicazes conseguem ter sucesso. Teremos uma Quick-Step vs Sagan vs Avermaet, tal como no Tour de Flandres, mas com outras variáveis, e ciclistas mais discretos podem aproveitar.
O actual campeão olímpico, Greg van Avermaet, tem sido a grande figura da Primavera, com vitórias na Omloop het Nieuwsblad, E3 Harelbeke e Gent-Wevelgem e ainda pódios no Tour des Flandres e Strade Bianche. O belga está sempre lá quando é preciso, apesar desta prova não ter colinas já fez um 3º e um 4º lugar aqui. Tem-se mostrado muito evoluído tacticamente e Daniel Oss e Martin Elmiger serão ajudas preciosas.
John Degenkolb tem no Paris-Roubaix a sua prova favorita e grande admiração. O alemão foi 2º em 2014 e conquistou a vitória em 2015. Tem uma equipa com individualidades fortes, mas que precisa de coesão, Jasper Stuyven, Edward Theuns, Gregory Rast e Koen de Kort serão homens importantes. Degenkolb pode ganhar de um sprint em pelotão reduzido ou numa aventura em solitário, ele que gosta de corridas bem duras e aceleradas.
Outsiders
Peter Sagan será a grande incógnita, sendo que esta não parece ser a corrida dele. Em 6 participações só por 1 vez fechou no top 10. Isto deve-se a alguns factores, a sorte ou azar, a qualidade da equipa e ainda a vertente táctica, que é bem necessária aqui. Bodnar e Burghardt parecem capazes de estar ao lado dele este ano, mas pode ser insuficiente. Veremos como está a condição física após a violenta queda no Tour de Flandres. Curioso como Sagan apenas tem 1 Monumento na carreira.
Tom Boonen está aqui a despedir-se do ciclismo profissional. É o retirar de uma lenda que passou de sprinter a corredor de clássicas. Vencedor em 2005, 2008, 2009 e 2012, no ano passado esteve bem próximo e somente Matthew Hayman negou o triunfo. A grande arma será a motivação com que está, sendo que também conta com uma grande equipa. Veremos se consegue a 114ª vitória da carreira.
Niki Terpstra é outra cartada muito forte a ser jogada pela Quick-Step, veremos se é ele a sair primeiro como isco ou se fica guardado para mais tarde, sabendo nós que Boonen tem mostrado grande apetência para atacar de longe. Terpstra foi um dos mais fortes no Tour de Flandres, uma prova que nem é bem a sua praia, o que indica bem a forma física do holandês, também um vencedor desta prova.
Possíveis surpresas
Aqui gostaríamos de dar destaque especial a Oliver Naesen, a grande confirmação do ano até agora. Sempre com os melhores, até no Tour de Flandres conseguiu acompanhar Sagan e Avermaet. Sabemos que está bem, mas com um joelho inchado, que pode provocar algum incómodo. No ano passado foi 13º e este ano está muito melhor. Arnaud Demare parece estar com este objectivo bem definido, o gaulês é a grande esperança dos adeptos franceses, tem no sprint final a grande vantagem. Alexander Kristoff esteve de novo bem no Tour de Flandres, porém Roubaix nunca foi a sua praia, nunca fez melhor que 9º. A Team LottoNL-Jumbo tem 2 corredores interessantes, Lars Boom, que já fechou aqui top 15, mas não está em grande forma, e Dylan Groenewegen, um sprinter que já mostrou muito potencial em clássicas com empedrado. Ian Stannard fez uma grande corrida no ano passado, a par de Luke Rowe, só que a Team Sky parece abaixo do par neste momento nas clássicas. Zdenek Stybar estará fora de forma e afectado pela queda que sofreu no reconhecimento da prova. Gostaríamos ainda de destacar a Orica-Scott, que vem com o renovado Luke Durbridge, Jens Keukeleire, que está sempre bem nas grandes provas e se poupou esta semana, e com o campeão em título Matthew Hayman. Por fim, atenção a Dylan van Baarle, dada a ausência de Sep Vanmarcke.
Super-Jokers
Os nossos super-jokers são Ramon Sinkeldam e Scott Thwaites.